O trem pára à minha frente; logo, uma fila de pessoas se empurrando e gritando umas com as outras se forma. Como não é o meu, fico no mesmo lugar que estou, sentado em um banco de madeira na estação. Mas não volto a ler o livro que agora reposa aberto em meu colo, meus olhos agora ocupados com uma das janelas do trem.
Do outro lado do vidro, outra pessoa olha para fora. Fitando o vazio, de forma vaga, pensativa, sem ligar muito para o mundo à sua volta, mais preocupado com... Com o quê? É engraçado, não consigo imaginar no que ele poderia estar pensando, embora com certeza seja algo que qualquer pessoa poderia pensar; não sei porque, não consigo vê-lo tentando imaginar que horas o trem vai chegar, como estará a família que vai encontrar (ou que deixou), o que vai fazer hoje à noite... Ele é um completo mistério para mim, e acho que é isso que me fascina.
Percebo que não consigo desviar meus olhos dele. É engraçado como essas coisas acontecem sem previsão; menos de trinta segundos encarando um estranho através de uma janela e já estou enfeitiçado. Rio sozinho com a descoberta de um sentimento sem razão, e não sei porque meu riso atrai sua atenção. Do vazio, seus olhos passam para mim, primeiro com curiosidade, depois... Com algo mais? Ou será que isso é só o que quero?
Não sei dizer, mais uma vez, o que significa seu olhar. Se ele continua me olhando apenas por curiosidade, por estar imaginando que tipo de pessoa encara outra em um trem e ri sozinho; se estranha minha atitude, sentindo-se desconfortável com um estranho que não pára de encará-lo; ou se olha para mim com o mesmo interesse que eu. Se esse olhar é uma interrogação, repulsa... Ou um convite.
Rapidamente, ele desvia o rosto, voltadoa gora para o outro lado, para dentro do trem. Já sem nenhum sorriso, sinto-me completamente estúpido. Irritado, pego meu livro e guardo-o na mochila. Como uma pessoa pode ser tão idiota, tão ingênua? Olho novamente para a frente e penso, por que esse trem ainda não foi embora, e ele está me olhando novamente.
Não sei o que fazer. Não consigo desviar meu olhar do dele, e fico cada vez mais intrigado. Eu nunca fui bom em adivinhações, e não sei se vejo nesse olhar uma chance ou um mal-entendido. Normalmente, eu costumo ficar com a segunda hipótese; mas... Eu não sempre me arrependo disso depois? Não fico achando que deveria ter apostado no improvável quando preferi não arriscar? Cato meus bolsos atrás da passagem para o meu trem, e assim que a encontro ele chega.
Agora a dúvida fica mais séria. Pelo menos uns dois minutos se passaram com o outro trem parado, e como a fila do meu está surpreendentemente pequena, ele não vai demorar muito na estação. Eu poderia ir no guichê trocar minha passagem por outra, e fazer companhia ao estranho que pareço já conhecer, mas estaria me arriscando a voltar ao embarque quando ambos já tivessem partido. Ou pior, conseguir trocar a passagem, embarcar no outro trem, e descobrir que tudo não havia passado de um mal-entendido, e ter que passar meia hora de viagem arrependido e morrendo de vergonha, apenas para ter que pagar mais uma passagem para chegar (atrasado) ao meu destino. Mas ele continua me olhando, não é possível que isso aconteça... Ou é? QUero dizer, quais as chances reais de eu entrar no trem, sentar-me a seu lado e ele simplesmente ignorar-me o resto da viagem, olhando para fora exatamente como está fazendo agora?
Contrariado, decido que não vale a pena arriscar; assim que decido não ir, como num passe de mágica, o trem fecha as portas e parte. Suspiro aliviado; mesmo que eu estivesse errado, que eu tivesse encontrado inesperadamente uma companhia, simplesmente não teria dado certo. O trem já teria partido quando eu voltasse. Talvez se eu não tivesse hesitado tanto... Mas olho para o tamanho monstruoso da fila da compra de passagens e penso que nem que eu tivesse ido para lá assim que o trem tivesse chegado não teria dado tempo.
Pego minha mochila e minha mala e entro no meu trem. Procuro uma poltrona na janela e passo a viagem olhando para fora e ouvindo música. Tento continuar a ler meu livro umas duas vezes, mas o balanço do trem começa a me dar dor de cabeça, e não quero correr o risco de enjoar na viagem. Passo então o tempo pensando naquele estranho que eu estava destinado a não conhecer. Mesmo sabendo que não conseguiria, sinto-me frustrado por não haver tentado. Não sei o porquê de me sentir assim, apenas... Apenas mais uma vez eu tive a oportunidade de arriscar e não o fiz. Enquanto lá fora as árvores e os postes passam rápido, me arrependo de mais uma vez não ter feito a escolha errada.
Do outro lado do vidro, outra pessoa olha para fora. Fitando o vazio, de forma vaga, pensativa, sem ligar muito para o mundo à sua volta, mais preocupado com... Com o quê? É engraçado, não consigo imaginar no que ele poderia estar pensando, embora com certeza seja algo que qualquer pessoa poderia pensar; não sei porque, não consigo vê-lo tentando imaginar que horas o trem vai chegar, como estará a família que vai encontrar (ou que deixou), o que vai fazer hoje à noite... Ele é um completo mistério para mim, e acho que é isso que me fascina.
Percebo que não consigo desviar meus olhos dele. É engraçado como essas coisas acontecem sem previsão; menos de trinta segundos encarando um estranho através de uma janela e já estou enfeitiçado. Rio sozinho com a descoberta de um sentimento sem razão, e não sei porque meu riso atrai sua atenção. Do vazio, seus olhos passam para mim, primeiro com curiosidade, depois... Com algo mais? Ou será que isso é só o que quero?
Não sei dizer, mais uma vez, o que significa seu olhar. Se ele continua me olhando apenas por curiosidade, por estar imaginando que tipo de pessoa encara outra em um trem e ri sozinho; se estranha minha atitude, sentindo-se desconfortável com um estranho que não pára de encará-lo; ou se olha para mim com o mesmo interesse que eu. Se esse olhar é uma interrogação, repulsa... Ou um convite.
Rapidamente, ele desvia o rosto, voltadoa gora para o outro lado, para dentro do trem. Já sem nenhum sorriso, sinto-me completamente estúpido. Irritado, pego meu livro e guardo-o na mochila. Como uma pessoa pode ser tão idiota, tão ingênua? Olho novamente para a frente e penso, por que esse trem ainda não foi embora, e ele está me olhando novamente.
Não sei o que fazer. Não consigo desviar meu olhar do dele, e fico cada vez mais intrigado. Eu nunca fui bom em adivinhações, e não sei se vejo nesse olhar uma chance ou um mal-entendido. Normalmente, eu costumo ficar com a segunda hipótese; mas... Eu não sempre me arrependo disso depois? Não fico achando que deveria ter apostado no improvável quando preferi não arriscar? Cato meus bolsos atrás da passagem para o meu trem, e assim que a encontro ele chega.
Agora a dúvida fica mais séria. Pelo menos uns dois minutos se passaram com o outro trem parado, e como a fila do meu está surpreendentemente pequena, ele não vai demorar muito na estação. Eu poderia ir no guichê trocar minha passagem por outra, e fazer companhia ao estranho que pareço já conhecer, mas estaria me arriscando a voltar ao embarque quando ambos já tivessem partido. Ou pior, conseguir trocar a passagem, embarcar no outro trem, e descobrir que tudo não havia passado de um mal-entendido, e ter que passar meia hora de viagem arrependido e morrendo de vergonha, apenas para ter que pagar mais uma passagem para chegar (atrasado) ao meu destino. Mas ele continua me olhando, não é possível que isso aconteça... Ou é? QUero dizer, quais as chances reais de eu entrar no trem, sentar-me a seu lado e ele simplesmente ignorar-me o resto da viagem, olhando para fora exatamente como está fazendo agora?
Contrariado, decido que não vale a pena arriscar; assim que decido não ir, como num passe de mágica, o trem fecha as portas e parte. Suspiro aliviado; mesmo que eu estivesse errado, que eu tivesse encontrado inesperadamente uma companhia, simplesmente não teria dado certo. O trem já teria partido quando eu voltasse. Talvez se eu não tivesse hesitado tanto... Mas olho para o tamanho monstruoso da fila da compra de passagens e penso que nem que eu tivesse ido para lá assim que o trem tivesse chegado não teria dado tempo.
Pego minha mochila e minha mala e entro no meu trem. Procuro uma poltrona na janela e passo a viagem olhando para fora e ouvindo música. Tento continuar a ler meu livro umas duas vezes, mas o balanço do trem começa a me dar dor de cabeça, e não quero correr o risco de enjoar na viagem. Passo então o tempo pensando naquele estranho que eu estava destinado a não conhecer. Mesmo sabendo que não conseguiria, sinto-me frustrado por não haver tentado. Não sei o porquê de me sentir assim, apenas... Apenas mais uma vez eu tive a oportunidade de arriscar e não o fiz. Enquanto lá fora as árvores e os postes passam rápido, me arrependo de mais uma vez não ter feito a escolha errada.