sábado, setembro 17, 2005

Uma poesia e uma explicação

Algumas pessoas comentaram o último texto que eu tinha publicado (Amor Calado), e pelos comentários, a maioria (se não todas) encarou um texto como um desabafo.

Não é que eu não tenha realmente passado pelas situações que eu escrevi; mas o propósito do texto não era desabafar, e sim explorar os preconceitos das pessoas de forma lúdica. Eu apenas usei algumas experiências pessoais - pra sincero, uma experiência especial, um sentimento que me consumiu um pouco demais entre o fim de 2003 e a metade de 2004 e acabou frustrado - pra dar mais verossimilhança ao texto, fazendo com que as pessoas se identificassem mais facilmente com ele. Ou seja, fazer as pessoas lerem o texto até o final, reconhecerem várias situações pelas quais provavelmente já hviam passado, e de repente: COMO ASSIM era um homem falando de outro homem???? Quem me conhece minimamente sabe que eu sou uma pessoa que detesta preconceitos de diversas naturezas - raça, classe, gênero, religião, sexualidade... Esse texto foi para mim uma forma de desconstruir esse preconceito em quem o leu sem mandar @ dit@ cuj@ para o paredão, e se tiver dado resultado em apenas um@ del@s eu já estou feliz ^^ E fazer isso deu trabalho... Quer dizer, são linhas e linhas sem usar NENHUMA identificaçãode gênero pra poder dar certo!

Mas não é só isso... Quer dizer, já expliquei, tá na hora da poesia que prometi no título. Infelizmente, a criatividade tava em crise e ela não é minha, mas quem sabeda próxima vez! Então, lá vai, e até a próxima, pessoal!

Se as minhas mãos pudessem desfolhar
Federico Garcia Lorca


Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!

domingo, setembro 11, 2005

Amor Calado

Ainda hoje, é como quando comecei a gostar dele. Basta vê-lo para que minha respiração fique presa, que meu olhar não consiga desviar-se dele, que o mundo pare para que eu possa vê-lo passar. A ansiedade aumenta enquanto ele chega perto; agora, eu penso. Até ele falar comigo: aí sei que meu rosto vai ficar vermelho, e meus olhos, que antes existiam só para ele, vão começar a, desesperados, procurar qualquer outro lugar (normalmente o chão) para esconderem-se. Ele fala qualquer coisa, provavelmente alguma bobagem simpática que falaria com qualquer pessoa, o tipo de coisa que a gente diz quando quer puxar conversa, ou quando está só de passagem e não quer demorar. Aquele tipo de frase pronta que a gente puxa da manga em qualquer situação. Depois, é um 'até logo' e eu queimo de vergonha.

Cada encontro casual - na rua, num corredor, numa sala, no pátio da cantina - é uma reprise dessa cena. Não importa quantas vezes eu ensaie, imagine dez mil vezes na minha cabeça o que farei e direi na próxima vez, nada muda. É sempre o mesmo bolo na garganta, a mesma cola nos meu pés, sempre parecendo que sou de pedra e não de carne e osso. Só quando ele some da minha visão é que o encanto se desfaz, e eu me acho a pessoa mais idiota do mundo. Falar o que sinto é tão difícil assim?

O irônico é que os momentos em que eu o vejo são sempre esperados com ansiedade. Se passo um dia que seja sem vê-lo, é como se o sol se apagasse, tudo ficasse mais cinza e triste.

Quando penso nessas coisas, eu rio como que fazendo pouco de mim mesmo; afinal, que exemplo melhor de que as pessoas apaixonadas são exageradas? Que nós fazemos coisas sem sentido, imaginamos o impossível, quando nosso coração não nos pertence mais (mais uma vez o exagero deixa sua marca...).

Toda a minha vida parece estar reduzida a essa espera por ele, e depois ao arrependimento de tê-lo encontrado; ou melhor, de tê-lo encontrado e ter deixado passar mais essa chance de tirar esse peso de dentro de mim. Arriscar. Colocar todas as fichas na chance de que, de repente dê certo. Que ele me ouça com o coração aberto. Que eu possa ficar junto a ele sem ter que sentir esse aperto, essa vergonha, essa vontade de gritar e a frustração de não conseguir.

Mas tão naturalmente quanto vem, esse pensamento se desfaz; a realidade é dura demais para que eu possa me iludir assim. Quer dizer, racionalmente eu sei que não há chance; duvido muito que ele seja sequer compreensivo com o que sinto. Quando o sonho é um pouco mais insistente, penso que estou sendo pessimista demais. Mas que escolha eu tenho além do pessimismo? Não posso correr o risco (embora queira acreditar que ele não é capaz disso) do isolamento, das chacotas, das risadinhas, ou até de algo pior.

E é nesse dilema que eu me perco. É essa dúvida que, literalmente e sem exageros dessa vez, tira meu sono. E nada disso adianta sequer para evitar minha reação idiota quando a gente se encontra.

Tento me consolar. Digo a mim mesmo que, se nada acontecer, isso vai passar. Que outras pessoas, mais próximas, mais abertas e possíveis, vão aparecer. Mas... Eu não quero isso. Não quero perder isso que sinto. É um amor sofrido, calado, que me machuca, mas ainda assim é amor. Ele me rasga, me faz ter vontade de gritar, faz com que me sinta um lixo, mas ainda assim, em alguns momentos, me faz sentir como se eu fosse especial, me faz bem só por existir. São momentos raros, é verdade; mas é por isso mesmo valem a pena.

E depois de tudo isso, o mundo gira e volta ao mesmo lugar. Nada mudou desde o começo, é a mesma sensação de sempre que sinto agora. O mesmo aperto no peito. A mesma necessidade de escapar dos olhos que, mesmo sem querer, me devoram. As palavras que só saem aos solavancos, gaguejadas, aaos pedaços. O mesmo bolo de lágrimas contidas na minha garganta. A mesma frustração quando ele se vira e me deixa. Só.

Às vezes eu queria pelo menos poder chorar. Não ter essa necessidade de esconder a tristeza, a angústia. Deixar as lágrimas rolarem até que tudo o que se acumulou dentro de mim seque e leve embora esse peso.

Mas não posso. Nem mesmo isso. Eu sempre aprendi tudo rápido. E me ensinaram cedo que homens não choram.



(Salvador, 7 de setembro de 2005)

sexta-feira, setembro 09, 2005

E então, que quereis?

"Fiz ranger as folhas de jornal
Abrindo-lhes as pálpebras piscantes
E logo de cada fronteira distante
Subiu um cheiro de pólvora
Perseguindo-me até em casa.
Nesses últimos vinte anos
Nada de novo há no rugir das tempestades.
Não estamos alegres, é certo
Mas também porque razão haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado.
As ameaças e as guerras
Havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio
Cortando-as como uma quilha corta as ondas"
- Maiakóvski, 1912

quarta-feira, setembro 07, 2005

Uma apresentação desnecessária

É aqui que eu me perco. Só não decidi ainda se vou me achar.