domingo, setembro 11, 2005

Amor Calado

Ainda hoje, é como quando comecei a gostar dele. Basta vê-lo para que minha respiração fique presa, que meu olhar não consiga desviar-se dele, que o mundo pare para que eu possa vê-lo passar. A ansiedade aumenta enquanto ele chega perto; agora, eu penso. Até ele falar comigo: aí sei que meu rosto vai ficar vermelho, e meus olhos, que antes existiam só para ele, vão começar a, desesperados, procurar qualquer outro lugar (normalmente o chão) para esconderem-se. Ele fala qualquer coisa, provavelmente alguma bobagem simpática que falaria com qualquer pessoa, o tipo de coisa que a gente diz quando quer puxar conversa, ou quando está só de passagem e não quer demorar. Aquele tipo de frase pronta que a gente puxa da manga em qualquer situação. Depois, é um 'até logo' e eu queimo de vergonha.

Cada encontro casual - na rua, num corredor, numa sala, no pátio da cantina - é uma reprise dessa cena. Não importa quantas vezes eu ensaie, imagine dez mil vezes na minha cabeça o que farei e direi na próxima vez, nada muda. É sempre o mesmo bolo na garganta, a mesma cola nos meu pés, sempre parecendo que sou de pedra e não de carne e osso. Só quando ele some da minha visão é que o encanto se desfaz, e eu me acho a pessoa mais idiota do mundo. Falar o que sinto é tão difícil assim?

O irônico é que os momentos em que eu o vejo são sempre esperados com ansiedade. Se passo um dia que seja sem vê-lo, é como se o sol se apagasse, tudo ficasse mais cinza e triste.

Quando penso nessas coisas, eu rio como que fazendo pouco de mim mesmo; afinal, que exemplo melhor de que as pessoas apaixonadas são exageradas? Que nós fazemos coisas sem sentido, imaginamos o impossível, quando nosso coração não nos pertence mais (mais uma vez o exagero deixa sua marca...).

Toda a minha vida parece estar reduzida a essa espera por ele, e depois ao arrependimento de tê-lo encontrado; ou melhor, de tê-lo encontrado e ter deixado passar mais essa chance de tirar esse peso de dentro de mim. Arriscar. Colocar todas as fichas na chance de que, de repente dê certo. Que ele me ouça com o coração aberto. Que eu possa ficar junto a ele sem ter que sentir esse aperto, essa vergonha, essa vontade de gritar e a frustração de não conseguir.

Mas tão naturalmente quanto vem, esse pensamento se desfaz; a realidade é dura demais para que eu possa me iludir assim. Quer dizer, racionalmente eu sei que não há chance; duvido muito que ele seja sequer compreensivo com o que sinto. Quando o sonho é um pouco mais insistente, penso que estou sendo pessimista demais. Mas que escolha eu tenho além do pessimismo? Não posso correr o risco (embora queira acreditar que ele não é capaz disso) do isolamento, das chacotas, das risadinhas, ou até de algo pior.

E é nesse dilema que eu me perco. É essa dúvida que, literalmente e sem exageros dessa vez, tira meu sono. E nada disso adianta sequer para evitar minha reação idiota quando a gente se encontra.

Tento me consolar. Digo a mim mesmo que, se nada acontecer, isso vai passar. Que outras pessoas, mais próximas, mais abertas e possíveis, vão aparecer. Mas... Eu não quero isso. Não quero perder isso que sinto. É um amor sofrido, calado, que me machuca, mas ainda assim é amor. Ele me rasga, me faz ter vontade de gritar, faz com que me sinta um lixo, mas ainda assim, em alguns momentos, me faz sentir como se eu fosse especial, me faz bem só por existir. São momentos raros, é verdade; mas é por isso mesmo valem a pena.

E depois de tudo isso, o mundo gira e volta ao mesmo lugar. Nada mudou desde o começo, é a mesma sensação de sempre que sinto agora. O mesmo aperto no peito. A mesma necessidade de escapar dos olhos que, mesmo sem querer, me devoram. As palavras que só saem aos solavancos, gaguejadas, aaos pedaços. O mesmo bolo de lágrimas contidas na minha garganta. A mesma frustração quando ele se vira e me deixa. Só.

Às vezes eu queria pelo menos poder chorar. Não ter essa necessidade de esconder a tristeza, a angústia. Deixar as lágrimas rolarem até que tudo o que se acumulou dentro de mim seque e leve embora esse peso.

Mas não posso. Nem mesmo isso. Eu sempre aprendi tudo rápido. E me ensinaram cedo que homens não choram.



(Salvador, 7 de setembro de 2005)

3 comentários:

Anônimo disse...

"Alguns corações são como cristais em um mundo de vidro: até a maneira como despedaçam é bonita..."

Anônimo disse...

Escrever é uma puta forma de jorrar sentimentos puros, impuros ou reprimidos. Nem precisa chorar, Dé. Cada lágrima é como se fosse um de nós que te lemos.
Livia

Anônimo disse...

Se o blog n serve pra aliviar o que vc sente, dividindo com as pessoas, serve ao menos pra provar q a gente n se conhece ^^



Se a idéia era criar uma constrição no peito, deu certo...

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[]'s

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