terça-feira, agosto 30, 2005

Fim

vou escrever coisas sem sentido
dizer rezas e ofensas como se fossem irmãs
mergulhar na tempestade e na areia do deserto
só para que você esteja longe de mim

assim não lembrarei de suas mãos
de suas palavras doces e gentis
seus olhares que me queimavam e devoravam
seus lábios que sempre venciam os meus

vou abandonar sua lembrança
junto com suas fotografias
no sótão da casa de onde já fugi
fazendo companhia às cartas e traças

serei cruel com nosso passado
e o matarei ainda que ele peça de joelhos
que eu aceite mais uma vez
um nunca te esquecerei como consolo

se você não pode estar aqui
então é melhor que suma por inteiro
que leve com você essa alegria embolorada
esse sonho enferrujado da noite passada

e finalmente quando você tiver ido
vou poder tranquilamente gritar e sangrar
chorar e quebrar retratos na parede
e depois dormir o sono das crianças e dos loucos.



(Salvador, 8 de agosto de 2005)

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