terça-feira, agosto 30, 2005

Luar

A lua
me desnuda
me estuda

micróbio indefeso em lâmina de microscópio
observado analisado anotado relatado
por um olho branco distante de cientista insensível estéril em luva jaleco

A lua
fria crua
me cozinha

em fogo brando de solidão mal-dormida
de paixão não vivida entre lençóis em cama de solteiro
e caminhadas insones por quartos corredores cozinhas banheiros

A lua
pura dura
me censura

Uma nuvem cúmplice amiga me esconde
mas a efêmera fútil ilusão de segurança se desfaz
com o vento cruel que me devolve a luz que nego sem tempo de fugir esconder

A lua
diferente
não mais indiferente?

Retorna me toma envolve revolve
protege conforta afaga abraça
súbito é mãe filha amiga amante mulher tantas que não resta espaço

Para cientista cozinheiro censor solidão.



(Guarajuba/Salvador, julho-setembro de 2004)

Um comentário:

Anônimo disse...

gostei!